Saturday, April 28, 2007

PROGRAMA "NOVAS OPORTUNIDADES" e a CNEA

Em 1950, segundo estatísticas da UNESCO, Portugal possuía uma taxa de analfabetos a rondar os 44%. A ditadura do Estado Novo, mal vista na fotografia, reagiu e apresentou solenemente o Plano de Educação Popular (1952). Foi através da Campanha Nacional de Educação de Adultos que se tentou corrigir ou disfarçar a falência do sistema educativo e, diga-se em abono da verdade, um atraso atávico da população portuguesa. Mas porque o Programa NOVAS OPORTUNIDADES corre sérios riscos de, mais do que validar competências, constituir um estímulo ao facilitismo, dando um sinal errado aos jovens e à sociedade, transcrevo, com a fidelidade da fonte (o "Diário de Lisboa" de 1963) duas redacões de entre o montão que ficaram justamente célebres e dignas de reflexão, para o passado e para o presente:

A VACA
"A vaca tem quatro patas, a dianteira e a trazeira, e depois o rabo que ainda tem pelos debaixo da vaca está a leiteira. Com o rabo enxota as moscas. O marido da vaca é o boi. Não dá leite por isso é mamífero. Dos chifres fazem-se botões de madrepérola. A vaca é muito útil, come-se por dentro e bebe-se por fora".

E nem de propósito, uma outra redacção fala do

LEITE
"O leite é para nós beber-mos. O leite faz queijos e manteiga. O leite é branco e eu gosto muito de leite. O leite vem dos animais que dão à gente. Os animais que dão leite são: a vaca, a ovelha, os burros e o Sr. Prior da Mata da Mourisca também dá leite mas é em pó."

Wednesday, April 25, 2007

A GERAÇÃO "SANDUICHE"

Tinham 3 anos no 25 de Abril. São adultos hoje. Para eles qual será o "deve" e o "haver"? Diligentes funcionários da Telepiza ou Mac Donalds ou Yuppies de sucesso? Ou nem uma coisa nem outra? A geração "sanduiche" não teve vida fácil, sobretudo a nível de identidade pessoal.

25 de ABRIL: "A POESIA ESTÁ NA RUA"

"Biblioteca em Fogo" da pintora Vieira da Silva (1974), que viriamos a associar à Revolução dos Cravos através do cartaz "A POESIA ESTÁ NA RUA". Os intelectuais afinal estavam vivos e actuantes, e tinham esperança...



Tuesday, April 24, 2007

A POESIA ESTAVA LÁ (3)

ALEXANDRE O'NEIL

PERFILADOS DE MEDO

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
E a vida sem viver é mais segura.
(...)

A POESIA ESTAVA LÁ (2)

CARLOS DE OLIVEIRA

LIVRE

Não há machado que corte
a raíz ao pensamento:
Não há morte para o vento
não há morte. (...)

A POESIA ESTAVA LÁ (I)

MIGUEL TORGA

DIES IRAE

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
(...)

O FASCISMO NUNCA EXISTIU

Algures em Lisboa, nos finais da década de 50, numa escola primária, uma classe com a sua professora, com os alunos que a rodeavam vestidos a rigor com a farda da Mocidade Portuguesa com o cinto emblemático com o "S" de Salazar.

Friday, April 20, 2007

NÃO BATE A BOTA COM A PERDIGOTA...

Caro Vitor (Constâncio), desculpa este tratamento íntimo, mas advém de quando dávamos grandes caminhadas para poupar 10 tostões no bilhete de autocarro para ir do Bairro da Liberdade, onde morávamos, para o Liceu Pedro Nunes. Não partilho das críticas e ironias que te fazem por teres ganho mais de de 280 mil euros em 2005 só de rendimentos do trabalho dependente. Não que não ache muito, sobretudo porque esse dinheiro é também pago pelos meus impostos e eu nem vinte vezes menos ganho. O problema foi o primeiro-ministro ter encorajado uma reforma moralizadora, que só se aplica aos que já ganham mal. E aí creio que te ficava bem prescindires de alguma parte do que recebes, quer sob a forma de vencimento, quer através das reformas exorbitantes que já acumulaste e que vais ainda acumulando, segundo regras diferentes dos outros trabalhadores. E para além de reiteradamente teres feito o jeito ao governo e ao grande capital ainda vens preconizar a flexigurança, quando defendes que o mercado de trabalho continua a exibir uma rigidez que prejudica a reconversão empresarial, devendo adoptar-se medidas de flexibilização da legislação.
Sabes o que me intriga? É que tu apesar das longas caminhadas para poupar10 tostões no autocarro, nunca teres tido uma referência aos comuns mortais que estão desempregados (e são muitos, sabes, e com a flexibilização ainda seriam mais), aos trabalhadores que ganham pouco mais de 500 Euros, mas nunca é tarde, sabes? Saudades dos bons tempos, em que brincávamos à bola e ao pião, no Bairro da Liberdade...

Thursday, April 19, 2007

A QUADRATURA DO CÍRCULO

Jorge Coelho fez ontem juz ao nome do programa ao querer, em nome da insignificância do caso, decretar o silêncio sobre as habilitações "adquiridas" pelo aluno Sócrates na Independente. De facto, o assunto está longe de estar morto enquanto persistirem as dúvidas e omissões que enxameiam aquele processo. O assunto foi trazido à baila como objecto de vingança? É provável. Mas quem se mete com aquela gente (da "Independente") por mais cuidados que tenha (e não parece ter sido o caso) mais tarde ou mais cedo vai pagá-las. Duas coisas ficaram claras através das notícias divulgadas: primeira - à Universidade Independente já deveria ter sido retirado o alvará há muito tempo, pois é evidente que funcionava à revelia dos mais elementares critérios de probidade e rigor; segunda - o aluno Sócrates tem um percurso escolar longe de ser exemplar: passagem por várias universidades e institutos sem concluir uma licenciatura e essa, para usar uma expressão popular, "cada cavadela uma minhoca" (Dois certificados... Duas biografias parlamentares...etc). Dir-se-á: "não tem importância, se ele for um bom primeiro-ministro". Pode ser que sim, mas ele - Sócrates - dava importância. Mais do que a competência, o mérito, buscou o canudo. Não se pode, definitivamente, apresentar como exemplo, como pateticamente Mariano Gago e ele próprio, tentaram passar para a opinião pública.

Sunday, April 15, 2007

ESTOU DEVERAS CONFUSO, PAI

Estou, deveras, confuso Pai. As forças do bloqueio regressam e o Tribunal de Contas dá conta dos inúmeros assessores e consultores que têm sido admitidos nos gabinetes ministeriais, com vencimentos orgásticos e com nomeações a roçar o anonimato, à revelia ou com uma interpretação perversa das leis vigentes. Este clientelismo de tipo novo (job´s for the boys), com base no recrutamento nos partidos do poder, tem uma ainda não mensurável, mas profunda, capacidade de corrosão da confiança (trust, cito por uma vez com propriedade Fukuyama) dos cidadãos nos que os governam. Por isso o País está confuso, inquieto, revoltado não se sabe contra quê ou contra quem, dando já inequívocos sinais, talvez porque lhe tenha sido ministrada uma tal dose de inveja e amesquinhamento de pessoas e cargos, de que o feitiço se está voltando contra o feiticeiro

PAI, PERDOAI-OS, POIS ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM

As palavras de Cristo, segundo S. Lucas, que inspirou Haydn e me levaram no passado Sábado ao Porto, à Casa da Música, evocam o significado da Páscoa para os crentes, mas no preciso momento em que escrevo prossegue o inimaginável filme de terror rodado na “Universidade” Independente, que mete “pistoleiros” contra “pistoleiros” em vez de docentes e ensino e aprendizagem e probidade e saber, apanágios de uma universidade genuína; um filme negro, em suma, em que nem a figura do primeiro-ministro escapa, ele que tem vindo a protagonizar uma autêntica cruzada em nome do rigor...
Recordo-me das palavras sábias de um grande professor meu da Faculdades de Letras, o Prof. Borges de Macedo (pese as profundas divergências ideológicas que partilhávamos), que censurou um colega quando este, apesar da ingenuidade e convicta modéstia, revelou a média obtida no ensino secundário: “Tive 20 valores, mas não dou grande importância às notas”. A que o Mestre retorquiu abrasivo, demolidor, numa acérrima defesa do mérito: “Pois devia dar, porque o sistema de classificação por notas ainda é o mais justo e democrático e veio substituir o que a nobreza impusera durante séculos: o do sangue”. Azul, pois claro…

Monday, April 9, 2007

ANTÓNIO BARRETO COMEÇA A DUVIDAR

António Barreto, excelente comentador, exigente, apologista do mérito, tinha vindo a ser um dos principais suportes intelectuais da equipa governativa de José Sócrates: onde outros viam fragilidades ele descobria sabedoria (veja-se o caso da Ministra da Educação e dos seus Secretários de Estado). Eis que no último "Público" começa a claudicar: o clientelismo desbragado, as trapalhadas da licenciatura de José Sócrates, o aparecimento recorrente de Armando Vara (sempre em situações de imbróglio, mas que fazem sentido, desde a Fundação Prevenção e Segurança, à sua nomeação para a Caixa Geral de Depósitos, de onde por artes mágicas surge o novo reitor para a "Universidade" Independente doutorado em Badajoz há alguns meses e que depende dele hierarquicamente), o aniquilamento e despojamento de poderes por parte deste governo das Secretarias Gerais dos Ministérios em favor de inúmeros boy's leva-o a desabafar: "Com estes hábitos, com este estilo, com esta obsessão pela informação e com esta prática de favoritismo, a tão proclamada reforma do Estado não está em boas mãos".

MENSAGEM PASCAL 2007

"Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? S.Mateus, 27, 46