Caro Vitor (Constâncio), desculpa este tratamento íntimo, mas advém de quando dávamos grandes caminhadas para poupar 10 tostões no bilhete de autocarro para ir do Bairro da Liberdade, onde morávamos, para o Liceu Pedro Nunes. Não partilho das críticas e ironias que te fazem por teres ganho mais de de 280 mil euros em 2005 só de rendimentos do trabalho dependente. Não que não ache muito, sobretudo porque esse dinheiro é também pago pelos meus impostos e eu nem vinte vezes menos ganho. O problema foi o primeiro-ministro ter encorajado uma reforma moralizadora, que só se aplica aos que já ganham mal. E aí creio que te ficava bem prescindires de alguma parte do que recebes, quer sob a forma de vencimento, quer através das reformas exorbitantes que já acumulaste e que vais ainda acumulando, segundo regras diferentes dos outros trabalhadores. E para além de reiteradamente teres feito o jeito ao governo e ao grande capital ainda vens preconizar a flexigurança, quando defendes que o mercado de trabalho continua a exibir uma rigidez que prejudica a reconversão empresarial, devendo adoptar-se medidas de flexibilização da legislação.
Sabes o que me intriga? É que tu apesar das longas caminhadas para poupar10 tostões no autocarro, nunca teres tido uma referência aos comuns mortais que estão desempregados (e são muitos, sabes, e com a flexibilização ainda seriam mais), aos trabalhadores que ganham pouco mais de 500 Euros, mas nunca é tarde, sabes? Saudades dos bons tempos, em que brincávamos à bola e ao pião, no Bairro da Liberdade...
No comments:
Post a Comment