Vamos aos factos: a tia da Alice, senhora de 68 anos, veio do oftalmologista (particular...) com o diagnóstico que confirmara as suas queixas: estava afectada por cataratas, “nada que não tivesse cura”, acrescentara o clínico. Dirigiu-se então à sua médica de família e ficou a saber que as consultas de especialidade estavam com um atraso de longos meses e as intervenções cirúrgicas do Serviço Nacional de Saúde demoravam ainda mais.
Não sabia que fazer. O médico particular, atencioso, falou-lhe em qualquer coisa como 2000 euros, por uma vista. Era incomportável para a sua magra pensão. Alice recordou-se de que algumas autarquias haviam feito acordos com Cuba, onde por menos dinheiro se deslocavam de avião, eram operadas e estavam quinze dias na ilha de Fidel a recuperar da visão. Soube também que o Hospital Distrital do Barreiro, que vira engrossar em mais 616 novas propostas cirúrgicas de cataratas, contratara um cirurgião espanhol de Badajoz que, numa semana, realizara mais cirurgias que o hospital em todo o ano de 2007, por um terço do preço do praticado pelos cirurgiões portugueses. E com o desassombro que se reconhece a nuestros hermanos teria afirmado que “a medicina portuguesa estava neste particular desactualizada” perante a afirmação defensiva de um representante da Ordem dos Médicos, indignado pelo chamamento dos colegas espanhóis!
O povo tem razão: Não há pior cego que aquele que não quer ver…
Enquanto isso, há milhares de portugueses que mergulharam definitivamente na escuridão pela miopia de uns, a ganância de outros, a incompetência de todos.
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